22 de fev. de 2014

ASTROLOGIA MUNDIAL

Em 2010, decidi que passaria a dedicar parte de meus estudos à Astrologia Mundial. Isso pelo simples fato de que estava começando a ficar cansado de oferecer ao público sustentação da eficácia de minhas previsões astrológicas mediante casos que apenas eu - por vezes, mais uma ou duas pessoas - havia presenciado. 
Fiz, a partir de então, previsões sobre fatos mundiais que, por sua natureza, estariam ao alcance de todos, embora não me lembro quais delas cheguei a tornar públicas. 

Uma foi a de que a entrada definitiva, sem retrogradações, de Plutão no primeiro decanato de Capricórnio traria cataclismos de grandes proporções relacionados com deslocamentos da e sob a crosta terrestre. Acertei. Com efeito, pouco depois de eu haver externado isso, começaram, no fim de 2009, na Islândia, as atividades sísmicas sob um vulcão, que, adormecido desde 1821, voltou, em abril de 2010, quase dois séculos depois, à lançar enormes volumes lava e cinza de sua cratera. Menos de um ano depois, em Março de 2011, um tsunami de proporções gigantescas assolou a costa do Japão, deixando quase 20.000 vítimas, entre mortos e desaparecidos. 

Outra foi ter adiantado que a entrada de Urano no primeiro decanato do signo de Áries ("beijou" esse decanato do signo do fim de maio de 2010 até meados de agosto desse ano, depois entrou definitivamente nele a partir de março de 2011, devendo sair dele, passando sem retrogradações para o de Leão em fevereiro de 2014 - o que, a meu ver, deverá trazer descrédito para várias cabeças concreta ou simbolicamente coroadas) - iria trazer REVOLTAS SANGRENTAS CONTRA REGIMES TOTALITÁRIOS. Acertei: a onda de protestos batizada de "primavera árabe", iniciada APÓS EU HAVER FEITO A PREVISÃO, destronou quatro ditadores: os da Tunísia e do Egito deixaram o poder sem oferecer grande resistência, Muammar Kadafi, da Líbia, deixou o poder morto, o do Iêmen, após resistir durante vários meses à manifestações populares, transferiu o poder para um governo provisório, Bashar al-Assad resite até agora. Evidentemente, como previsto, sobrou sangue para todo lado. 

No ano passado, quando os comentaristas políticos mundiais apontavam a solidez de Putin como tsar comunista, observei: é, mas a partir de fevereiro de 2014 vai ter essa solidez fortemente abalada, pois Plutão vai, a partir daí, até dezembro de 2015, fazer oposição ao grau ocupado por seu Sol, regente de seu Meio-do-Céu (= posições de poder hierárquico) . Acertei. Pensei que isso fosse acontecer em torno dos eventos ligados à Olimpíada de Inverno em Sochi. Errei. Está acontecendo na Ucrânia, em Kiev, que está opondo ao tsar atual a resistência que, na segunda metade do século XVI não pode opor a Ivan, o Terrível, que a assolou com requintes da maior crueldade. Minha previsão atual é a de que, depois de um breve intervalo durante meados de 2014, essa posição irá culminar novamente, no fim desse mesmo ano, de forma que novas eleições deverão, de fato, ocorrer em dezembro desse ano na Ucrânia, sendo eleito um presidente que irá opor-se fortemente às intenções de Putin de impedir uma relação mais estreita entre a Ucrânia e a Comunidade Europeia. Se Putin, a partir disso, não for apeado do poder, fará jus a seu mapa natal, que o revela como, possivelmente, uma das pessoas mais poderosas deste planeta (Plutão em conjunção ao Meio-do-Céu, regendo o Ascendente, em trígono com Marte, sextilha com Mercúrio, Saturno e Netuno, vendo-se, ao topo disso tudo, inflado por uma quadratura de Júpiter). O cara não é mole.

Em tempo:  Fiquei atraído pela Astrologia Mundial, quando, em dezembro de 1985, assistindo, em Congresso Mundial de Astrologia, a uma palestra de André Barbault, a maior autoridade então conhecida nessa matéria, ouvi-o responder a uma pergunta sobre se ele teria alguma previsão a fazer sobre o Brasil que, por volta de 28 de fevereiro do ano seguinte, deveria haver uma profunda reformulação das regras do jogo econômico-financeiras imperantes em nosso país.  Para meu completo assombro, EXATAMENTE EM 28 DE FEVEREIRO DE 1986, O PRESIDENTE SARNEY PÕE LANÇA O PLANO CRUZADO, com base no decreto lei número 2.283, de fevereiro de 1986.  Vou repetir, para eu mesmo ouvir, porque nem eu mesmo acredito:  EM DEZEMBRO DE 1985, eu ouvi de um especialista em Astrologia Mundial, que, EM TORNO DE 28 DE FEVEREIRO DE 1986, haveria profunda reformulação das regras de jogo econômico-financeiras vigentes em nosso país, seja, EXATAMENTE NA DATA DE LANÇAMENTO DO PLANO CRUZADO.  Que é isso, Astrologia ou Vudu? Como podem imaginar, mais de uma centena de pessoas, presentes à palestra, podem confirmar isso!

28 de jul. de 2011

ELISABETH BADINTER E A IDEALIZAÇÃO DA MATERNIDADE

Desde Alexis de Tocqqueville (1805-1859) e, com alguma boa vontade, Auguste Comte (1798-1857), não encontrei pensador francês de filosofia ou humanidades (enfatizo “pensador”, não “coletores de dados”, como competentemente o foram Foucault e Lévi-Strauss) que me despertasse suficiente respeito para que eu empregasse meu tempo em comentá-los. Isso inclui – a despeito da excelência de sua dramaturgia – o existencialismo ingênuo de Sartre e os sedutoras prestidigitações lingüísticas de Althusser, Barthes, Deleuze, Guattari, Kristeva e, last but surely not least, Lacan.

E assim fiquei, posto em sossego, até quando Elisabeth Badinter, em seu “Um Amor Conquistado” (1980), desmitificou, solidamente assentada em fatos históricos, a ideologia que ainda sobrevive – e contra a qual se levanta – sobre a “real” natureza da maternidade.

Em seu exemplar de 20 de julho próximo passado, a revista Veja trouxe-me de volta, em uma entrevista, o pensamento da autora, que meu respeito por ela me obriga a comentar.

Meu primeiro comentário é sucinto e relativamente óbvio, mas merece cuidadosa atenção. Não obstante sua fina análise das vicissitudes históricas do conceito de maternidade, a autora falha em desfazer de maneira suficientemente nítida os elementos, de per si autônomos, de duas tríades falsamente coladas em nosso ambiente cultural: a primeira, entre mulher, feminino e maternal; a segunda, entre homem, masculino e paternal. Não cumpre ser um gênio para concluir que essas falsas colagens podem permitir enganos que atrelam mulheres e homens a características que podem perfeitamente passear entre umas e outros, levando, por exemplo, a afirmações sobre a mulher que se aplicam apenas ao feminino, ao feminino apenas o que se aplica ao maternal, ao homem o que se aplica apenas ao masculino etc., etc., etc.. Para quem, como ela, está disposto a, como acentua o entrevistador, “despertar a ira de feministas, ecologistas e acadêmicos”, seria de bom alvitre evitar tais tropeços.

Meu segundo comentário diz respeito a uma lacuna que a formação da autora dificilmente seria capaz de preencher. Cito trechos da matéria para, a partir deles, fazer meus reparos. A certa altura da entrevista, a autora afirma:

o conceito de maternidade tal como hoje conhecemos” [...] surgiu “apenas a partir do século XVIII, sob influência direta Jean-Jacques Rousseau” [...] “ele conseguiu convencer a sociedade francesa a valorizar mais a função materna, argumentando que isso significava para as mulheres a reconquista do papel superior que lhes foi dado pela natureza [grifo meu].”

Meu comentário se dirige não à determinação, solidamente fundamentada pela autora, da época em que se cunhou a ideologia, ainda vigorosa – e fortemente brandida pelo setor xiita do feminismo atual – da “superioridade” da função materna. Ele dirige-se ao fato de ter ela atribuído a Rousseau o papel de haver “convencido” a população francesa, indiscutível centro de difusão cultural daquela época, quanto à real existência dessa tal “superioridade”. Creio que, aqui, a autora, correta quanto à natureza do fenômeno e o período de sua ocorrência, está grandemente equivocada no que diz respeito ao modelo do qual se serve para explicá-lo.

E isso em virtude de haver farta evidência empírica de natureza astrológica - desde meados do século XVII injustamente abandonado pela comunidade acadêmica – apontando para que:

(1) Quando um astro super lento entra e passa a transitar em um determinado signo, ele imprime seu especial matiz ao tema central daquele signo;

(2) Esse efeito é pressentido subliminarmente pela humanidade como um todo;

(3) É trazido para a consciência coletiva por um ou mais indivíduos que, além de serem gênios intelectuais, possuem uma carta astrológica indicando especial sensibilidade para aquele trânsito; e que

(4) Essa especial sensibilidade é indicada, principalmente, pela posição que, na carta desses indivíduos iluminados, ocupam – data venia pelo trocadilho – os luminares, sejam, o Sol e a Lua.

Ora, sobre que matéria teoriza Badinter? Sobre exacerbada idealização da maternidade ter ocorrido a partir do século XVIII.

Ora, (1) a maternidade é a temática central do signo de Câncer e (2) Netuno, um astro super-lento*, tinge com matizes de idealização qualquer elemento que pincela**.

O que poderiam essas duas afirmações nos levar a inferir estar ocorrendo no céu, durante o século que entronizou a maternidade?

Fácil: que o planeta da idealização, Netuno, tivesse entrado no signo da maternidade, Câncer, e lá ficado por bom tempo, graças a sua lentidão.

Ocorreu isso? Basta consultar as efemérides, tabelas astronômicas – disse “astronômicas”, não disse “astrológicas”! – que nos indicam a posição exata de cada astro, no ano, mês, dia, hora, minuto, segundo etc., que quisermos bisbilhotar.

Consultaram essas tábuas? Não? Pois eu consultei e elas revelaram precisamente o que seria astrologicamente esperável:

NO SÉCULO XVIII, NETUNO ENTROU NO SIGNO DE CÂNCER,

TRANSITANDO LONGO TEMPO POR ALI.

E quanto a Rousseau?

Terá sido mesmo, como pontifica Badinter, sua “influência direta”(sic) que “conseguiu convencer a sociedade francesa”(sic) – e, convencida essa, convencer o mundo – a idealizar a maternidade?

Ou Rousseau, à parte sua genialidade, apresentava também, em sua carta astrológica, características que o tornavam particularmente apto para ser o arauto*** de um mito que a França e o mundo já estavam assaz preparados para receber?

Essa segunda hipótese ficaria particularmente reforçada se, segundo as considerações feitas anteriormente, seu Sol e/ou sua Lua estivessem, em sua carta natal, sob intensa influência do Planeta Netuno e/ou do Signo de Câncer. Vejamos.

Não tinha o mapa de Rousseau e recorri, obviamente, ao Google. Note-se o que encontrei: Netuno em conjunção (= forte influência) com a Lua, sendo essa conjunção ainda mais fortificada por uma sextilha (= significativo reforço daquela influência) com um Sol em Câncer.

Bingo! Quantos indivíduos, entre os quase 1 bilhão de pessoas presentes na Terra daquele século, além de serem gênios literários, teriam tal aspecto astrológico e habitariam um centro difusor de cultura como a França de então? Mais um detalhe, que facilitou certamente a idealização da mãe por Rousseau, a mãe desse grande e romântico francês faleceu quando lhe deu à luz... É, sem dúvida, mais fácil fantasiar a excelência de uma mãe ausente do que a de uma que não apenas nos abriga, mas também nos obriga...

O mundo acadêmico terá seu potencial preditivo significativamente empobrecido, enquanto insistir em, ao invés de submeter seriamente à prova as hipóteses empíricas da Astrologia, desconsiderá-las sumariamente, deixando-as ao sabor dos palpites canhestros de apedeutas e charlatões.

À guisa de sobremesa, para os mais entendidos:

1) Futurologia:

A crise econômico-financeira dos EUA, independentemente de algum sazonal recuo, deve seguir-se aprofundando, até chegar a seu clímax, no ano de 2014. Plutão em Capricórnio chegará, nesse ano, a uma oposição exata com o Sol em Câncer, situado na casa II, das posses, desse país. É também possível que, nesse ano, ele perca sua hegemonia econômica (possivelmente para a China, não por razões astrológicas, mas pelo que se vê por aí...). Também é possível que a racha tectônica existente sob São Francisco venha a sofrer abalos (o Sol do país, além de estar na casa II, rege a casa IV, associada aos alicerces de um indivíduo, de uma empresa, de um país etc.).

2) Presentologia:

Plutão, desde o fim de 2008, adentrou Câncer, o que tende (contrariamente ao que fez Netuno ao entrar nesse signo) a trazer à tona tudo o que há de podre sob a fachada idealizada do materno. Ocorrendo isso, o trabalho de Badinter ficará na berlinda e será respeitado.

3) Passadologia:

No século XIX, Plutão, rei do Hades (inferno grego e, assim, de tudo que é subterrâneo, invisível, obscuro, marginalizado etc.) entrou no signo de Touro, um signo intimamente associado a tudo que é palpável, visível, audível, cheiroso, degustável e palpável. Ótimo para o nascimento da Psicanálise, não?

Pois bem, Freud, seu criador, tinha, alimentando sua genialidade e sua privilegiada alocação cultural, um mapa astrológico com o Sol (= consciência) em Touro (= o que pode ser captado por nossos sentidos e assim, por derivação, nosso comportamento) acicatado por sua conjunção com um Plutão (= o inferido e assim, por derivação, o Inconsciente). E não com um Plutão qualquer, mas com um Plutão especialmente poderoso, pois Escorpião, o signo por esse astro comandado, estava nascendo no momento em que Freud nasceu. Não é à toa que esse neurologista vienense inaugura oficialmente a Psicanálise, colocando em latim, no frontispício de sua mais conhecida obra, a “Interpretação dos Sonhos”, a famosa frase de Virgílio:

Flectere si nequeo Superos, Acheronta movebo.”

Entenda-se:

Se não posso dobrar o Céu, moverei o Inferno”!

__________________________________________________

*Leva cerca de 170 anos para percorrer o Zodíaco, enquanto a Lua leva 28 dias para isso, e os ciclos zodiacais de Mercúrio e Vênus, por exemplo, nem sequer a 1 ano chegam.

**Uma arguta colega psicanalista dizia que ser mãe não é, como reza o dito, “padecer num paraíso”, mas, bem ao contrário, “ser feliz num inferno”...

***Especialmente, frisa Badinter, com a publicação, em 1762, de seu Emile.

27 de jan. de 2011

ASTRÔNOMOS E ASTRÓLOGOS

NE SUTOR ULTRA CREPIDAM(nota 1)
O artigo “Tem Confusão no Céu da Ciência e no da Crença”, recentemente publicado por VEJA (n.2), esconde, sob um falso manto de cientificididade, uma cadinho em que se misturam lógica mambembe com decantada ignorância, postas à serviço de um secular e medroso preconceito.

Petitio Principii:

“Petição de Princípio” é como se denomina, em Lógica, o raciocínio falacioso no qual se que constrói a aparência de havermos chegado pari passu a uma inescapável conclusão, quando, na verdade, essa conclusão já foi subrepticiamente introduzida como verdadeira nas mesmas premissas em que se fundamenta tal raciocínio.

Desde seu título – “Tem Confusão no Céu da Ciência e no da Crença” – o artigo de VEJA insinua como aceita premissa o que nos tentará incutir como necessária conclusão, pois, desde esse título dá-se por ponto pacífico exatamente o que está sub judice, seja, se a Astrologia merece ou não o status de ciência.

Essa postura de ter por sacramentado o que se fingirá estar sob julgamento é logo reafirmada no início do artigo:

Por que o astrônomo Parke Kunkle(n.3)resolveu meter sua colher científica nessa sopa mística? Pela mesma razão que, desde a codificação do método científico, os cientistas cutucam os místicos que querem disputar com eles o coração e a mente das pessoas.” (p.85; grifos meus)

Se tivessem condições de ser honestos, diriam: “nós escreveremos este artigo já partindo da CRENÇAde que a Astrologia NÃO PASSA DE UMA CRENÇA.”

Mas não há vísceras para tanto e os articulistas irão, aplicando conhecimentos astronômicos corretos sobre conhecimentos astrológicos distorcidos, fingir estarem demonstrando o que já tinham desde o início deliberado: que as hipóteses astrológicas são de natureza irracional.

Na verdade, o artigo faz exatamente aquilo de que – como veremos adiante – acusa injustamente Gauquelin (p.89): tenta dar foros de cientificidade a uma CRENÇA, a de que a Astrologia NÃO É uma ciência (n.4).

Gols, goleiros, estádios e enfermarias:

Volto a citar o artigo:

O problema é que o céu muda ... Isso significa, explicou Kunkle, que as constelações desenhadas pelos astrólogos (n. 5) 3 000 anos atrás para definir que meses e dias do mês correspondem a cada signo não são as mesmas do céu de agora (n. 6).” (p.86; grifos meus)

Estou de acordo com Quiroga, citado nesse mesmo artigo:

A tentativa de confundir signos e constelações é motivada ou por má intenção ou por pura ignorância.” (p. 89)(n. 7).

Lancemos mão de um exemplo pala ilustrar a salada Kunkliana apontada por Quiroga:

Corinthians e Flamengo se defrontam no Maracanã. Quando menos se espera, o goleiro do segundo sofre grave contusão por falta e é transportado para a enfermaria do estádio. Se o locutor que estivesse transmitindo o desenrolar do jogo entendesse tanto de futebol quanto Kunkle entende de Astrologia, bradaria, incontinenti: “Incrível, senhores , tendo o goleiro do Flamengo sofrido grave contusão, o gol do time foi transferido para a enfermaria do estádio, para onde devem, doravante, se voltar os chutes do adversário!” Pobres médicos e enfermeiros!

Esmiucemos a analogia: dada a precessão dos equinócios (= a falta) uma constelação (= o goleiro) se desloca pelos doze setores (= gol, enfermaria etc.) do Zodíaco (= estágio), aos quais os astrólogos chamaram de signos. Ora, cada um desses setores ou signos foram originalmente denominados, pelos que os delimitaram, segundo o nome da constelação que em cada um deles se encontrava cerca de 4000 anos atrás.

O FATO DE ESSAS CONSTELAÇÕES, AO LONGO DE MILÊNIOS, SE HAVEREM DESLOCADO PARA OUTROS SETORES DO ZODÍACO, TRANSFORMA TÃO POUCO A NATUREZA DO SIGNO (= SETOR ZODIACAL)QUANTO O DESLOCAMENTO DE UM GOLEIRO PARA UMA ENFERMARIA TRANSFORMA A FUNÇÃO DA ENFERMARIA OU A DO GOL.

Kunkle, como outros astrônomos, passando além das chinelas que lhes cabem, mistura alhos com bugalhos, tirando suas conclusões à maneira de um esquizofrênico, que, ao ver, em um teste, uma mancha freqüentemente interpretada como “borboleta” ou como “mariposa”, pontificou, guiado por sua mente confusa: “Borboposa ou marileta!

Entendido que são os setores do zodíaco, denominados signos, e não as constelações, que desempenham o papel de “variáveis independentes” (=fatores determinantes) no arsenal explicativo da Astrologia, ficaríamos poupados de ver Kunkle et aliter se aproveitarem de um conjunto de dados astronômicos corretos para produzir um monumental arrazoado de sandices astrológicas. Como se vê, não tem o menor sentido, seja do ponto de vista conceitual ou do ponto de vista histórico, tentar enfiar a constelação de Serpentário, descoberta em 1930, na divisão em setores do "Maracanã zodiacal", divisão essa estabelecida, desde os egípcios e babilônios, a partir da natureza do cosmos e da observação empírica (= ciência!)dos efeitos exercidos sobre os fenômenos terrestres, humanos ou não, pela passagem dos astros por tais setores.

Destarte, inspirado pela famosa diatribe de Cícero contra Catilina - "Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra!" - desabafo eu:

Até quando, ó astrônomos, abusareis de nossa paciência!

Michel Gauquelin:

Se, quanto no que diz respeito ao tipo de correlação – meramente onomástica - entre constelações e signos, segui anteriormente Quiroga, oponho-me frontalmente a ele, quando acusa a ciência astrológica de “não aceitar os rigores da aferição empírica e da prova pelos pares.” (n. 8) (p. 90).

Isso é acabada balela:

Primeiro, a Astrologia foi, em particular a partir do chamado Iluminismo, deliberadamente expulsa dos meios acadêmicos – principais patrocinadores dessa aferição empírica e das publicações que permitem a “peer review” – o que nos justifica afirmar ser a Astrologia, a partir de então, não uma “ciência oculta”,mas, sim, uma ciência é uma “deliberadamente ocultada”;

Segundo, é vergonhoso como essa ocultação da cientificidade astrológica, leva autores como Kunkle e os articulistas em tela a considerar as seriíssimas pesquisas do psicólogo e estatístico Michel Gauquelin, replicadas com vastas amostras e em diversos países, - pesquisas em que o autor demonstra a insofismável correlação estatística entre certas posições astrológicas e determinadas características comportamentais – como tentativas de, por meio dessas rigorosíssimas pesquisas, “dar ares de cientificidade” à Astrologia. O que se vê, sim, é serem exatamente os autores em pauta - os quais, é óbvio, jamais abriram um trabalho de Gauquelin - que tentam, com evidente desconhecimento da matéria em pauta, dar “ares de cientificidade” as descabeladas conclusões do astrônomo norte-americano;

Terceiro, é lamentável ver que os que expulsaram a Astrologia das universidades – impedindo uma séria avaliação de sua validade científica – deixaram-na, por isso, à disposição de uma série de charlatães, cuja prática irresponsável e incompetente, justamente por estar desprovida de fiscalização acadêmica e governamental, serve às maravilhas para justificar os preconceituosos vieses dos que abriram as portas para o exercício astrológico desses mesmos charlatães.

Minha previsão , na verdade, é a de que, mais cedo ou mais tarde, no Ocidente, a Astrologia trilhará o mesmo percurso que trilharam a Homeopatia e a Acupuntura: inicialmente banidas de clínicas, hospitais e academias, são hoje acolhidas por convênios, por universidades e, no Brasil, até pelo SUS.

Darwin:

Nada impede a um gênio de dizer bobagens. Pois nossos articulistas, no afã de justificar seus non sequitur (n.9), servem-se (1) de uma afirmação de Darwin que, sem fazer mossa sobre sua indisputável genialidade, é das mais tolas dentre as que jamais emitiu, a qual, álém disso, (2) mesmo que tolice não fosse, seria incapaz de dar sustentação à conclusão a que aqueles autores pretendem induzir seus leitores.

Transcrevo a infeliz citação:

Apresentem-me um único ser vivo que não teve um antepassado e toda a minha teoria pode ser jogada no lixo.” (p.90)

Darwin deveria estar extremamente irritado com seus opositores para dizer tamanha besteira.

A maior delas, aqui, é supor que o fato de, até um determinado momento, não se haver encontrado ascendente para um determinado ser vivo, isso implique que tal ascendente não seja passível de, em futuro próximo ou distante, ser encontrado;

Se, na ocasião de tal escorregadela, o gênio inglês estivesse em pleno uso de sua racionalidade , teria, isto sim, afirmado:

Basta que um único ser vivo tenha tido um antepassado para que minha teoria não deva ser jogada no lixo.

E isso por quê? Porque bastava ter ficado provado que um único ser vivo passou por um processo de evolução filogenética – e, a partir de Darwin, isso ficou demonstrado em relação a dezenas de milhares deles – para desconfirmar a proposta cristã de que TODOS seres vivos continuam sendo exatamente idênticos aos que Deus criou no Paraíso. Uma desconfirmação inelutável, que, na verdade, foi a origem primeira de toda oposição – que até hoje – nos EUA, por exemplo - resiste bravamente contra a obra do inglês.

Digamos, entretanto, for the sake of argument, que a afirmação de Darwin citada pelos articulistas não fosse uma rematada bobagem.

Digamos que e o fato de uma expectativa gerada por um determinado conjunto de hipóteses não ser preenchida fizesse tal conjunto merecedor de ser alijado do panteão das ciências...

Nesse caso, deveríamos estar todos preparados, para a provável tristeza de Kunkle e, aparentemente, dos articulistas, para jogar no lixo não só Darwin, o Evolucionismo e a Astrologia, mas também a Meteorolgia, a Economia, a Psicologia, e com especial pompa e circunstância, a Física Quântica, que, de braços com Lula e Platão, só sabe que nada é capaz de saber...

NOTAS:

(1) A citação completa é “Ne sutor ultra crepitam judicaret“ (Que nenhum sapateiro não se meta a julgar mais do que as chinelas”), atribuída a Apelles, pintor grego por alguns considerado o maior da Antiguidade. Frase desde então empregada como reprimenda àqueles que se dispõem a falar sobre o que não conhecem;
(2) Ano 44, n.4, 26/01/11, p.85-90;
(3) Professor da Minneapolis Community & Technical Center (USA);
(4) Empírico-indutiva, por suposto, não teórico-dedutiva, como, por exemplo, a Física de Newton;
(5) Perdão, "astrônomos". São eles que lidam com constelações; astrólogos lidam com signos;
(6) Logo ficará patente que Kunkle não tem a menor idéia do que, em Astrologia, significa, para uma constelação, "corresponder a um signo".
(7) Ao que eu acrescentaria: por uma supina ignorância, gerada pela má intenção de rejeitar, por medroso preconceito, o tipo de conhecimento astrológico. É como se alguém, aproveitando-se dos não poucos erros das previsões meteorológicas, negasse seu fundamento científico, porque tem medo de ouvir que vai chover.
(8) "Prova pelos pares" ("peer review"): exigência de confirmação (replicação) por outros observadores qualificados em um determinado tipo de conhecimento (os "pares"). Essa exigência epistemológica foi considerada um sine qua do método científico a partir da fundação, em 1660, da Royal Academy of London for the Improvement of Natural Science, em geral simplesmente chamada de Royal Academy (seu equivalente francês, a Académie des Sciences, foi fundada em 1666).
(9) "Diz-se de argumento cuja conclusão não é garantida pelas premissas." (Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Ed. Positivo, 2009)

20 de jan. de 2008

ASTROLOGIA, LIVRE-ARBÍTRIO E PSICANÁLISE

Parte I

Psicanalistas e astrólogos têm em comum pelo menos uma experiência: a constatação do sem-número de vezes em que a divulgação do conhecimento que suas ciências acumularam desperta nos que a essa divulgação são expostos reações irracionais.
Quero sustentar aqui que a semelhança dessas reações aponta para o fato de que ambos, psicanalistas e astrólogos, estão lidando com o que considero a matéria mais explosiva com que se pode defrontar o psiquismo humano, seja, o problema da liberdade. Para o ser humano, o problema da liberdade não é UM problema, é O problema, porque nele está embutida, simplesmente, a ocorrência nuclear e hamletiana de SER ou NÃO SER. Defrontar o ser humano com o fato de que, aqui, ou ali, ou acolá, ele não é livre não repercute nele como uma mera descrição de estado; repercute, sim, como intrusiva acusação. Paradoxalmente, um ser humano não nasce um ser humano. Nasce meramente com a possibilidade de tornar-se ou não tornar-se tal. SER ou NÃO SER, é e será sempre, para ele, a essencial questão.
Se nasce um tigre, parecerá deslocado indagar: atingirá ele a sua “tigridade”? Tigre é tigre, nasce tigre e, enquanto biologicamente vivo, não pode ser acusado de NÃO SER. O ser humano pode. Pode ser acusado de, biologicamente vivo, estar psicologicamente morto. Pode ser acusado de, embora SENDO, NÃO SER. A morte, afinal, vinga, soberana, como o único e derradeiro critério para diferenciarmos a sanidade da doença: a doença física é qualquer estado que aponte para a morte biológica; a doença mental é qualquer estado que aponte para a morte psicológica. E a morte psicológica, para um ser humano, equivale à eliminação do seu arbítrio.
Assim, dizer a um ser humano “aqui, ali, ou acolá, você não está sendo livre!” equivale, a despeito de todo cuidado que possamos ter tido de limitar essa restrição de liberdade a este ou àquele setor, a dizer: “ali, você NÃO É!”; a dizer: “você, que nasceu com a possibilidade de tornar-se um ser humano, ali, você não se tornou um!”; a dizer: “ali, biologicamente vivo, está psicologicamente morto!”.
Defrontar um ser potencialmente humano com sua falta de liberdade é defrontá-lo com o fracasso de sua missão de tornar-se o que poderia ser, é defrontá-lo com sua NÃO EXISTÊNCIA, com o NÃO SER, com a sua morte.
Psicanalistas e astrólogos fazem isso. Psicanalistas e astrólogos, não quantas vezes armados de uma profissionalmente característica maldade esfregam no nariz de seus consulentes a temida frase: “você NÃO É!”; a temida frase: “você ESTÁ MORTO!”. Vivo, supremo, reina (segundo a especialidade), ou, nas profundezas dos céus, o ASTRO; ou, nas do mente, o INCONSCIENTE. Mandando em você, eterno títere dos planetas e dos complexos, incapaz de “cavalgar a sua estrela” e de “controlar sua neurose”... — “Não!”, brada você, antes que possamos terminar. — “Nada de tudo isso é verdade!”
Somos nós, psicanalistas e astrólogos, que estamos mortos. São as nossas ciências que tão têm fundamento, que são conjuntos de desvarios maldosamente organizados para destruir você. O inconsciente não tem força e é inconseqüente, pelo menos no que diz respeito a você, o rolar dos astros pelo céu. Você nos nega. Não estaria certo? Ou pelo menos, vingativamente certo? Nós declaramos a sua morte, você declara a nossa; nós declaramos o seu fracasso na missão de tornar-se humano, você declara, em contrapartida, o fracasso de nossas ciências em suas pretensões de verdade.
Mas há outra possibilidade. Essa, me parece ainda mais perniciosa: você cede. Você, rotulado, reduzido, descrito, previsto, explicado, você cede. Nós ganhamos. Você perdeu. Sabe o que acontece, então? Você se vinga também, mas de outra forma. Você não nos mata. Você não diz que nossos conhecimentos são um amontoado de infundados desvarios que só nossa infantil credulidade pode sustentar. Não. Pelo contrário. Você diz que nós estamos tão certos, tão certos, que os conhecimentos em que apoiamos nossos diagnósticos são tão sólidos, tão sólidos... que você não pode fazer nada! Você, guiado por nossas mãos, transformado em um porco existencial, se espoja na lama do destino. Defrontado com seus limites, você se transforma neles. Você não mais teve sua carta natal levantada: você É sua carta natal! Você não mais tem uma fobia: você É um fóbico! De negados, passamos a ser diabolicamente úteis. Você, que infernizava a vida de sua mulher e sentia-se um pouco mal com isso, encontrou, por meio de nós, a paz de uma “cobertura ideológica”: seu astrólogo lhe revelou que seu Marte tem uma quadratura exata (“e-x-a-t-a!”, enfatiza você em conversas) com a Lua dela e, além disso, seu psicanalista lhe fez lembrar que você não foi amamentado e que, inconscientemente, confunde sua mulher com sua mãe. Nós, o psicanalista e o astrólogo, fornecemos as desculpas para que você infernize sua mulher em paz através dos tempos... Ah, ia terminando, mas lembrei-me em tempo: se pusermos um tempero de reincarnacionismo em tudo isso, você pode optar pela vantagem adicional de dizer que, ao ser infernizada, sua mulher está recebendo a devida paga pelos incontáveis males que, em outra vida, lhe causou...
Nós quisemos, não foi? Conscientes ou não disso, nós, psicanalistas e astrólogos fizemos o que de mais detestável se pode fazer a um ser humano: defrontá-lo com os seus limites. E recebemos de volta — se não sempre, pelo menos costumeiramente — alguma variação de um dos dois grandes tipos seguintes de resposta:
Primeiro. Defrontado com um de seus limites, o sujeito NEGA QUE TAL LIMITE EXISTA. É, na minha experiência, a reação mais comum. A ela me referia, quando, no início deste ensaio, mencionei as reações irracionais provocadas pela divulgação de conhecimentos psicanalíticos e astrológicos. Como o limite foi diagnosticado pelo psicanalista e/ou pelo astrólogo, a partir daqueles conhecimentos, decorre facilmente que a negação do limite carreie consigo a negação do psicanalista, do astrólogo, da Psicanálise, da Astrologia e, aqui entre nós, do que mais diabos necessários for. Considero relevante, para a compreensão do processo, esse reconhecimento de que a negação da validade a essas duas ciências e a seus profissionais é uma negação SECUNDÁRIA, decorrente de uma outra — essa, sim, PRIMÁRIA — que é a negação, por parte do sujeito, do limite com que foi defrontado. O fundamento de suas objeções é a tentativa de evitar a ferida narcísica provocada pela percepção desse limite. Esse fundamento, contudo, não pode ser exposto: fazê-lo implicaria ter contato com a ferida narcísica que se quer evitar, tornando sem utilidade tais objeções. Ferido em seu narcisismo, impossibilitado de trazer á tona, em sua argumentação, o verdadeiro motivo que tem para estar argumentando, o sujeito se sente ameaçado, inseguro e a argumentação em causa adquire o caráter emocional e frouxo que tão bem conhecem os profissionais dessas duas áreas.
Segundo. Defrontado com um limite seu, o sujeito IDENTIFICA-SE COM ELE. Como se pode ver, enquanto o primeiro tipo de reação com a confrontação com o limite implica a negação daquele limite, este segundo tipo implica a NEGAÇÃO DO SUJEITO, que se declara assumidamente tragado pelo limite. Em minha experiência, esta reação é menos comum do que a primeira, se bem que, como a primeira reação tende a afastar o sujeito do profissional em questão, psicanalistas e astrólogos se podem mais facilmente ver cercados de clientes que se entregam à “fatalidade” da Astrologia ou da Psicanálise.
Nas duas reações mencionadas, há algo em comum, algo que poderíamos chamar de “negação da tarefa”. Como assim? Explico-me. Na equação “sujeito + seus limites”, está implicada uma tarefa — anteriormente cheguei a falar mesmo em “missão” — qual seja, a de transposição desses limites. Eliminando-se qualquer um dos elementos dessa equação, cessa a tensão que tal tarefa provoca. O primeiro grupo nega a tarefa negando os limites; o segundo nega-a negando o que é essencial no conceito de sujeito psicológico, ou seja: sua intenção ativa de transpor esses limites.
Sei, naturalmente, que mais de um conceito de saúde e doença mentais competem no mercado internacional da Psicologia. Sou, na verdade, especialista nisso. Dediquei pelo menos uma aprofundada consideração sobre o tema em tese de Mestrado, defendida, na PUC-RJ, em 1976. Hoje, passados trinta anos de continuadas reflexões sobre a matéria, defendo desabridamente a posição de que saúde mental e liberdade de arbítrio são simplesmente uma e mesma coisa; a posição de que toda a deficiência de arbítrio implica simultânea e proporcional deficiência de saúde psicológica; a de que toda a deficiência de saúde psicológica implica proporcional e simultânea deficiência de arbítrio; e a de que todo o aprofundamento do aparato conceitual básico da nosologia psiquiátrica virá a assentar-se sobre um aprofundamento do conceito de arbítrio, em grande parte à espera de ser feito.
Mas voltemos à problemática do sujeito, de sua tarefa e de seus limites, aparelhados, agora, com a identidade entre saúde mental e liberdade de arbítrio. Nessa volta, meto-me a acrescentar um novo elemento à identidade proposta, deixando-a assim:

Saúde mental = liberdade de arbítrio = existência de sujeito

Ora, se, como sustento, a existência de um sujeito implica existência (a) dos seus limites e (b) da intenção de transpô-los, tanto a negação desses limites (reação 1, descrita acima), quanto a aceitação passiva daqueles (reação 2), acarretam a morte (relativa que seja), do sujeito e, com ela, a doença psíquica e a inexistência de arbítrio.
Em seminário, realizado pelo Grupo Mandala, no Rio de Janeiro, sobre o tema “Astrologia: destino ou livre arbítrio?”, pude constatar, entre o público, a presença da mesma esperança e do mesmo medo que vejo existir entre os que acorrem a um psicanalista.

O medo: — “Temo que você, como um especialista em doenças terminais, não tenha nenhuma terapêutica, apenas um diagnóstico: o da minha morte como sujeito e da inexistência do meu arbítrio, o da minha doença mental.”
A esperança: — “Espero que você, não apenas diagnostique um mal para o qual não há cura, espero que haja um remédio, que você o tenha e que me possa dar.”

Nós temos?

Parte II

Profissionalmente, trabalho com a Psicanálise faz quase 40 anos; estudo Astrologia, amadoristicamente, há cerca de 25. Temporariamente, deixo de lado o que me ensinou aquela; vejamos o que com essa última aprendi. Da Astrologia, como psicanalista, aprendi os limites da minha potência. Tomemos uma natividade, por exemplo, em que o fator egoísmo seja extremamente carregado. Se entendermos, como entendo, saúde mental como sinônimo de liberdade de arbítrio, a liberdade, no caso, limita-se à possibilidade de se fazer um trabalho — sobre cuja natureza logo brevemente falarei — sobre esse comportamento egoísta hipertrofiado, de modo que o sujeito não seja tragado por esse aspecto de seu mapa, sendo “cavalgado” por ele. Não existe, contudo, a possibilidade de se alterar essa natividade, no sentido de querer-se que o tema egoísmo NÃO SEJA um ponto da problemática DAQUELE SUJEITO. Essa possibilidade não existe. E isso me ensinou a Astrologia.
Pensemos, agora, em um trânsito. Suponhamos que uma conjunção nativa de Lua e Netuno, na casa I, vá receber, durante meses, a quadratura de um Saturno em trânsito. Perdoem-me alguns astrólogos menos deterministas (e, lamentavelmente, não é possível discutir isso aqui, mas a problemática do destino e do livre arbítrio não tem nada a ver com a problemática do determinismo; cf. post sobre essa problemática que logo entrará neste site), mas, hoje em dia, não vejo escapatória para o fato de que o dono de tal natividade vai ficar deprimido. Não creio haver psicanalista capaz de alterar tal fato. Qual o seu papel, então? Permitir — e, mais uma vez aqui, nos defrontamos com a questão do arbítrio — que essa depressão não “cavalgue” o sujeito, mas que ele se assenhore dela, canalizando-a para os caminhos — por exemplo, a produção de uma obra de arte capaz de expressar tristeza — que ele mesmo escolher. Em outras palavras e mais uma vez: não está em seu arbítrio ELIMINAR o fator depressivo, mas apenas gerenciá-lo, para o quê, isso sim, terá uma contribuição a dar o seu psicanalista.
Sobre essa minha afirmação — mais ousadas ainda em virtude de minha relativa desqualificação enquanto astrólogo — quanto a inevitabilidade da vivência depressiva a ser trabalhada, posso imaginar desde já a reação desconfortável de uma boa quantidade de astrólogos (isso grandemente em virtude da citada e indevida confusão entre a problemática do destino e a do determinismo). Frente a essa possível reação desfavorável, eu gostaria — em deixando, não obstante, a discussão em aberto — de colocar um aspecto em torno do qual se poderia desenvolver uma fértil colaboração entre astrólogos e profissionais da área “psi”, qual seja:
A avaliação, ou não, da correção de uma previsão astrológica, para poder ser solidez científica, depende grandemente do grau de sofisticação conceitual com que se trabalha. Explico-me. Tomemos a depressão: ela não aponta para um único sintoma — unidade última de análise diagnóstica — mas para uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas que simultaneamente ocorrem. A observação leiga, via de regra, identifica depressão com tristeza. Essa é uma visão por demais grosseira para ser usada na confirmação — ou não — de hipóteses astrológicas. A síndrome da depressão inclui sintomas de áreas não afetivas, como, por exemplo:

Da área intelectual: bradipsiquismo (lentificação do pensamento);
Da área volitiva: hipobulia (diminuição do desejo de agir);
Da área somática: sintomas físicos como, por exemplo, uma gripe;
Da área motora: bradicinesia (lentificação dos movimentos).

Não cito todas as áreas, mas imagino que o que foi dito é suficiente para deixar claro que uma gripe pode ser indicadora de um estado larvar de depressão e que, portanto, um observador pouco informado pode concluir que uma previsão astrológica de depressão não se cumpriu simplesmente porque o nativo em questão não ficou triste, enquanto um observador mais sofisticado poderia verificar a correção do previsto ao incluir em sua avaliação sintomas menos “populares” de depressão como uma gripe (e considere-se que deixei de mencionar mecanismos psicológicos de defesa que podem, por exemplo, transformar um estado de depressão em um estado manifesto de euforia artificial e gratuita).
Falei em natividade e em trânsitos. Falemos algo sobre sinastria, ainda do ponto de vista da experiência de um psicanalista. É sabido que a conjunção do planeta Marte de um sujeito com o planeta Vênus de um outro, de sexo oposto, produz atração sexual. Pois bem, tenho uma experiência concreta de consultório a respeito. Minha Vênus está a 25 graus de Áries. Há alguns anos atrás, sentou-se em meu consultório, para uma entrevista inicial, uma paciente cujas características físicas não se enquadravam dentro daquelas que, normalmente, me estimulam sexualmente. Para meu espanto, porém, a paciente produziu-me, de imediato, forte atração. Só pude recorrer a uma hipótese astrológica: supus que a paciente tinha Marte no mesmo grau em que estava a minha Vênus. Tinha: seu Marte estava a 25 graus de Áries. Por que não sua Vênus no mesmo grau de meu Marte ou etc., etc. não é o que importa discutir aqui. Quero apenas considerar a contribuição de um fato do tipo do que concretamente ocorreu para a prática de um psicanalista.
Essa contribuição é dupla: primeiro, não ficar atribuindo a transferências de fixações (do analista ou de seu paciente) à infância um fato astrologicamente condicionado; segundo, quando, por exemplo, pela sinastria estiver indicado um sentimento (ou qualquer outro tipo de reação psicológica) de que ele, psicanalista, não tem consciência, desconfiar de um “ponto cego” na relação.
Em outras palavras, para solucionar o problema que supõe a tríade Psicanálise, Astrologia e Livre Arbítrio, proponho a frase de um meu paciente: — “Cara, a gente pensa que manda no nosso destino... A gente não MANDA no nosso destino, a gente SURFA no nosso destino!”
Essa frase condensa de maneira particularmente brilhante a solução mais lúcida que conheço sobre as relações entre destino e livre arbítrio: eu não posso determinar a qualidade do mar, mas posso, infinitamente, melhorar a qualidade de meu percurso sobre ele. Nesse sentido, vejo que a Astrologia está para a Psicanálise, como a Meteorologia está para a Navegação: aquelas nos apontam a qualidade do mar com que nos teremos que defrontar; essas nos oferecem instrumentos para que o naveguemos melhor.
Tentarei, no que segue, dar uma pequena idéia do que há de essencial no instrumento psicanalítico que nos permite navegar melhor no mar astrológico de nossa existência, esperando que essa pequena idéia possa congregar em torno dela algum trabalho conjunto de psicanalistas e astrólogos.
A grande descoberta da Psicanálise pode ser resumida em uma só frase, qual seja: A RESTRIÇÃO DO DISCURSO DE UM SUJEITO PROVOCA FENÔMENOS DE REPETIÇÃO, QUE SÃO O NÚCLEO DE SEUS SINTOMAS. Daí, deriva a seguinte frase, cerne da terapêutica psicanalítica: A AMPLIAÇÃO DO DISCURSO DO SUJEITO LIBERTA-O DOS FENÔMENOS DE REPETIÇÃO E, PORTANTO, DE SEUS SINTOMAS.
A expansão do discurso liberta o ser humano de suas fixações, amplia sua liberdade de escolha (não, como já vimos, de escolha da natureza do mar, mas, sim, de como navegá-lo), aumentando, consoantemente a isso, sua saúde psicológica, permitindo-lhe concretizar sua missão de tornar-se de fato humano.
Quero deixar esta frase, que entendo como o real fundamento sobre o que se pode construir com qualquer técnica que pretenda deslocar o sujeito, no contínuo da liberdade, do pólo dos que são cavalgados por suas estrelas, para o pólo dos poucos que chegam a cavalgá-las. E para marcá-la, permito-me repeti-la, reformulada: A AMPLIAÇÃO DO DISCURSO DE UM SUJEITO É O ÚNICO REAL CAMINHO PARA A AMPLIAÇÃO DE SUA LIBERDADE.
Imagino que algo dessa verdade esteja contido na suspeita de alguns astrólogos, levantado no seminário a que anteriormente me referi, de que o aprofundamento astrológico do problema do arbítrio passa por uma reavaliação do papel de Mercúrio, um planeta evidentemente associado ao problema do discurso.
E, para terminar com uma proposta, faço a de que psicanalistas e astrólogos se unam em torno à tarefa de transformar a frase psicanalítica “AMPLIE O SEU DISCURSO” e a frase astrológica “CAVALGUE A SUA ESTRELA”, em uma só frase astro-psicanalítica:

“DISCURSE A SUA ESTRELA”.

13 de jan. de 2008

SOBRE A CIENTIFICIDADE DA ASTROLOGIA I

Solicitaram minha colaboração, em debate travado em uma comunidade Orkut, sobre a cientificidade da Astrologia. Segue minha resposta.

"Se pretendemos resolver um problema, digamos, de Física, com auxílio do computador, precisamos de :

1) um input de dados quantitativa e qualitativamente satisfatórios.
2) um bom software;

O mesmo ocorre quando queremos resolver problemas com a nossa mente. Repassando os comentários dos membros dessa comunidade sobre a cientificidade ou não-cientificidade da Astrologia, vejo que nenhuma das duas condições acima está satisfatoriamente preenchida.

Quanto a (1), pouco posso ajudar, além de indicar, por exemplo, a consulta ao livro de Michel Gauquelin, The Truth about Astrology (London: Hutchinson, 1983), em que, para dar um único exemplo, a hipótese astrológica de semelhança planetária entre pais e filhos é demonstrada como estatisticamente significante em dois estudos envolvendo nada menos que 60.000 pessoas.

É, contudo, no que diz respeito a (2) que, possivelmente, tenho condições de ajudar mais.

O software que vocês estão empregando parece-me bastante ruim.

1º. Ele não distingue as etapas empírica e teórica do conhecimento científico. A Homeopatia, por exemplo, é uma ciência naquele primeiro estágio. Embora já seja empregada em clínicas, hospitais, e médicos homeopatas sejam credenciados por planos de saúde, não creio haver alguém neste planeta que acredite ter ela conseguido comprovar a veracidade dos fundamentos teóricos que propõe. Além disso, um número avassalador dos remédios empregados pela medicina são resultados da mera descoberta de correlações empíricas, sem que se saiba, de fato, o porquê de sua eficácia. Se só fossem liberados para uso um remédio, quando estivesse explicada teoricamente sua eficácia, o arsenal terapêutico e profilático da medicina ficaria seriamente empobrecido[1]. Não há fundamento racional nenhum para não se estender esse mesmo tipo de tratamento ao conhecimento astrológico, que, mais do que evidentemente, se encontra no mesmo estágio do da Homeopatia.

2º. Esse mesmo software mental de vocês parece não ter aprofundado suficientemente o que significa atribuir a uma afirmação a qualidade de científica. Há, pelo menos, dois sentidos essenciais para essa afirmação.

O primeiro fala da veracidade ou falsidade do conteúdo de uma proposição. Nesse primeiro sentido, a Astrologia, como a citada Homeopatia, só pode ser considerada científica em um nível meramente empírico[2], onde já apresenta um bom leque de hipóteses estatisticamente comprovadas.

O segundo diz respeito, não ao conteúdo da proposição, mas ao tipo de fundamento teórico que se lhe pretende atribuir. Assim, uma mesma proposição, por exemplo, “a Terra gira em torno do Sol”, é de cunho religioso se proclamada pelos adoradores de Rê (nome egípcio para o deus Sol) e de cunho científico sob a pena de Galileu. Nesse segundo sentido, uma proposição pode ser considerada de natureza científica mesmo antes de ser empiricamente confirmada ou desconfirmada, pela simples natureza do fundamento que se pretende oferecer para ela.

Some-se que crer ou não crer são estados religiosos e saber ou não saber são estados científicos. Fica muito difícil nos convencermos de que estão discutindo, de fato, sobre a cientificidade da Astrologia, pessoas que vazam seu debate nos termos de se nela acreditam ou não."

[1] Recentemente, por exemplo, descobriu-se que um determinado antidepressivo ajuda no combate ao vício de fumar. Já está sendo usado para esse fim, embora ninguém saiba, até o momento a razão desse efeito colateral.
[2] Estamos deixando de lado aqui a diferença, pouco relevante para nosso debate, entre ciências formais e ciências factuais.

12 de jan. de 2008

SOBRE A CIENTIFICIDADE DA ASTROLOGIA II

Sugeriram que eu me “ilustrasse” sobre a cientificidade da Astrologia, consultando http://www.if.ufrgs.br/ast/astrologia.htm. Encontrei ali a seguinte coletânea de inverdades e sandices:

(1) O artigo se espanta com o fato de que o mapa natal seja construído a partir da hora do NASCIMENTO e não, da CONCEPÇÃO. Tal espanto só pode ocorrer em quem não sabe que tal construção de um mapa se funda sobre o conceito de de imprinting, que deu a Konrad Lorenz um prêmio Nobel.

(2) Afirma-se ali que as casas astrologias são “regiões de 30 graus do céu em relação ao horizonte”. Qualquer iniciante nos estudos astrológicos sabe que isso não é assim.

(3) Numa tentativa desesperada de sustentar o pressuposto de que “a Astrologia não é uma ciência”, acrescentam-se outras bobagens, como a de que a Astrologia “assume que a Terra está no centro do Universo”. Só um perfeito idiota, querendo criar um monstro para depois combatê-lo, pode acreditar que a Astrologia presume isso.

(4) Quanto á “precessão do eixo de rotação da Terra”, se nosso articulista tivesse um mínimo de conhecimento sobre o que fala, saberia que a Astrologia não se ocupa com CONSTELAÇÕES, mas, sim, com as ÁREAS DO ZODÍACO que ESTAVAM ocupadas por certas constelações quando essas áreas foram nomeadas.

(5) De resto, é espantoso como ainda sobrevivem imbecis capazes de acreditar que, se NÃO HÁ TEORIAS para explicar certos fatos, tais fatos NÃO EXISTEM. Será que Fábio Rennó e o autor do artigo em pauta acham que, antes de Newton haver desenvolvido a Teoria da Gravitação, OS CORPOS NÃO CAIAM?

(6) Para completar, a colocação, posta no artigo em pauta, de que “os efeitos das posições dos planetas e da Lua em qualquer pessoa da Terra nunca foram demonstradas em qualquer estudo sistemático” é DESCARADAMENTE FALSA. Os estudos levados adiante, durante mais de trinta anos, por MICHEL GAUQUELIN (The Truth about Astrology. London; Hutschinson, 1983) provam exatamente o contrário.

10 de jan. de 2008

ASTROLOGIA E PSICOTERAPIA

Informações astrológicas podem ajudar um psicoterapeuta a entender o que está acontecendo com ele e com seu paciente? Vejamos os seguintes casos:

1) Dando supervisão, detetei uma forte presença de sensações de perda na paciente de um de meus supervisionandos. Previ alguma perturbação em casa VIII, posivelmente envolvendo Plutão e/ou o signo de Escorpião. Resultado: paciente com Plutão nativo em Virgem, na casa VIII, recebendo quadratura de Plutão em trânsito. Poderia não estar vivendo sentimentos de perda? Duvido.

2) Também de supervisão: melhoria acentuada de paciente, que sorvia as interpretações de sua terapeuta e mudava a partir delas de maneira muito mais rápida e profunda do que regularmente acontece. Confirmei ao supervisionando que seu trabalho estava sendo muito bom, mas que para mudar com aquela profundidade, com aquela velocidade, o paciente deveria estar com o Plutão em trânsito fazendo trígono com o seu Sol natal. Não deu outra.

3) Também de supervisão. Tratamento bem sucedido, mas meu comentário à supervisionanda: "Está ótimo, algo, contudo, me chamou atençâo. Você não fala tanto assim com seus outros pacientes. Esse aí deve ter o Júpiter dele em trígono com seu Mercúrio." Bingo!

4) De atendimento meu. Primeira entrevista. A paciente mal começa a falar e eu penso: "Tem Marte em 25 graus de Áries, ou muito próximo disso." Bingo, outra vez! E como pude eu saber disso? Simples: a literatura astrológica diz que, numa sinastria, quando o Marte de alguém está em conjunção com a Vênus de outra, existe atração sexual entre ambas, minha Vênus está em 25 de Áries, a paciente não tinha os atributos estéticos que normalmente me atraem sexualmente e, mal ela sentou na sala, senti fortíssima atração sexual por ela. E por que não a Vênus dela em conjunção com meu Marte? Por que meu Marte está em Câncer e quando uma mulher tem Vênus em conjunção com meu Marte, minha atração sexual por ela tem um cunho de carinho que, no caso, não se fez presente.

Será que saber essas coisas podem ajudar os terapeutas? Creio que sim.

1 de out. de 2007

COMO EU LEIO UM MAPA ASTROLÓGICO

1. Dou muito pouco valor a previsões estruturais, feitas somente a partir da análise da natividade[1], as quais, via de regra, são, por exemplo, do tipo “você se separou de seus pais na infância” ou do tipo “você é extremamente agressivo”. Quanto ao primeiro tipo, o cliente, é claro, já está farto de saber disso e pouco uso pode fazer de tal informação além de ficar encantado com o “poder” do astrólogo e da Astrologia. Quanto ao segundo, ou o cliente confirma nossa afirmação, pois já sabe ser muito agressivo e recaímos na situação anterior ou a desconfirma, e jamais saberemos – a não ser que esse cliente esteja concomitantemente sendo psicanalisado por nós – se ele, de fato, é agressivo, mas não sabe disso, ou se erramos em nossa avaliação;

2. Por essas razões, concentro-me, essencialmente, em fazer previsões conjunturais, ou seja, as que nos permitem apontar que, durante um determinado período passado, presente ou futuro, certa tendência esteve, está ou estará atenuada ou exacerbada. Essa variação na intensidade de uma tendência é mais facilmente perceptível, o que permite que situações atuais ou futuras sejam mais bem manejadas.

3. Para esse tipo de previsão, emprego, especialmente, a análise dos trânsitos[2], que permite, melhor do que outras técnicas, uma delimitação precisa da natureza da previsão e dos períodos a que ela se refere;

4. Pouco erro no que diz respeito a esse tipo de previsão, pois não me perco avassalando o cliente com dezenas delas. Restrinjo-me às mais óbvias e relevantes, fornecendo uma quantidade de dados que facilita a concentração sobre o fenômeno esperado, permitindo seu melhor manejo. Segue um curioso exemplo dessa minha postura:

Uma colega psicóloga pediu que eu desse uma olhada no mapa de sua filha, que iria mudar-se para uma minúscula cidade de Mato Grosso, e que desse uma idéia sobre o que deveria ser esperado desse deslocamento. Fiz os trânsitos e disse à mãe que NÃO VIA NADA. “Como não vê nada?!”, retrucou. “Não vejo nada de relevante, de intenso, de significativo e não vou perder meu tempo nem o de sua filha, falando sobre ocorrências tão sutis que, para percebê-las, ela terá que ficar cansativamente atenta, sem auferir de nenhum ganho maior com isso. Talvez alguém mais competente do que eu consiga ver o que eu não estou vendo. Quanto a mim, não vou inventar previsões apenas satisfazer quem me procura”. Minha colega saiu, aborrecida da vida. Entrou em contato comigo algum tempo depois e relatou que a filha lhe havia ligado de Mato Grosso, dizendo: - “Mamãe, aqui não tem NADA, não acontece NADA! Não tem cinema, não tem supermercado, meu marido sai para o trabalho e eu fico sozinha em casa, no meio do NADA, sem fazer NADA”. Nesse curioso episódio, quando eu NÃO VI NADA, estava vendo alguma coisa!

4.1. Deixo claro que as previsões astrológicas com facilidade nos indicam o “santo” que vai baixar, mas, dificilmente podem indicar com segurança o “terreiro” em que isso vai ocorrer. Passar inadvertidamente do “santo” para o “terreiro” talvez seja o erro mais comum cometido pelos astrólogos. Passo a relatar um, cometido por mim:

O Sol, como sabem os iniciados, é o “centro de força” de um mapa e, estando na casa I, pressiona quem possui tal característica a auto-impor-se de maneira prepotente, e prepotente certamente era um de meus ex-pacientes, Abílio, um jovem de vinte e poucos anos, forte como um touro, que apresentava essa característica em seu mapa. A certa altura de seu tratamento, vi que o planeta Júpiter estava prestes a fazer “oposição”[3] com a posição do Sol em seu mapa natal. Ora, trânsitos de Júpiter provocam expansão das características por tais trânsitos ativadas, o que me fez, de imediato, concluir: “Abílio vai se meter em dificuldades por um aumento (conjuntural) de sua prepotência já (estruturalmente) aumentada”. Acertei? Não: meu paciente teve uma pericardite. SEU CORAÇÃO (o órgão que, no corpo animal, é representado pelo Sol) simplesmente INCHOU! Inchou e, passado o trânsito, DESINCHOU. Tivesse ele oitenta anos e sofresse de uma cardiopatia, eu teria pensado no coração. Não pensei e errei. Este é um bom exemplo dos riscos que existem em passar sem maiores cuidados do “santo” para o “terreiro”. Fique atento para impedir que eu, ou qualquer outro astrólogo, faça isso com você.

4.2. Também deixo claro que, quando prevejo “Vai chover”, não estou prevendo “Você vai se molhar”. Como brilhantemente resumiu um de meus pacientes, nós não MANDAMOS no nosso destino, nós SURFAMOS no nosso destino. A Astrologia se encarrega de nos informar sobre a qualidade das ondas, cabe a nós cuidar da qualidade do surfe.

5. Antes de me lançar a fazer previsões relativas ao futuro, faço algumas relativas ao passado e ao presente e confiro a correção ou incorreção de dessas previsões, isso a partir de feedbacks do cliente, feitos por imeils, MSN ou Skype. O episódio a seguir ilustra a utilidade desse cuidado:

Certa feita, recusei-me a continuar a leitura de um mapa, pois errei todas as previsões que fiz relativamente ao passado e ao presente da nativa, o que punha seriamente em questão a confiabilidade de previsões que eu viesse a fazer em relação ao futuro. Essa cliente, pouco tempo depois, entrou em contato comigo para me informar que sua mãe, ao saber de sua frustração frente a minha recusa, lhe confessou que, com o apoio do pai da cliente, havia adulterado a data do nascimento da filha, para ocultar o fato de que, quando casara, já estava grávida. O mapa que eu estava analisando, portanto, NÃO ERA O MAPA DA PACIENTE! Não era de espantar que todas minhas previsões resultassem incorretas.

6. Envio, por imeil, gráficos para o cliente, indicando os períodos em que, durante um ou dois anos seguintes à data da análise do mapa, deverão estar operando mais fortemente determinadas tendências. Esses gráficos informam quando uma determinada influência começará a operar de maneira mais intensa, quando chegará a seu clímax, e quando deixará de se fazer sentir com intensidade significativa.

7. Quanto ao pagamento, metade do preço acordado é pago antes de eu iniciar meu trabalho e metade após o envio do laudo final. Essa última parcela pode ser desprezada, caso eu não consiga produzir previsões passíveis de serem produtivamente utilizadas pelo cliente.

8. Como, freqüentemente, só posso me ocupar da análise de um mapa astrológico durante os fins de semana, cada uma dessas análises costuma delongar-se durante um período que varia entre um e dois meses.

[1] Posição relativa dos astros no zodíaco, determinada segundo o momento e local do nascimento de uma determinada pessoa.
[2] “Trânsitos” são ângulos especiais feitos por astros reais sobre pontos particularmente sensíveis de uma carta natal.
[3] Um ângulo de 180°.

7 de ago. de 2007

EXEMPLO DE ANÁLISE ASTROLÓGICA

ANÁLISE DOS TRÂNSITOS

PRIMEIRO CONTATO.
(21/04/2007)

Paloma,
comecei a olhar o seu mapa. Como você leu em minhas "INFORMAÇÕES INICIAIS", gosto de fazer alguma previsão retroativa para verificar quão preciso é o horário de nascimento que me foi fornecido, precisão essa que é por vezes mais, por vezes menos, necessária.
No seu caso, os trânsitos operantes em torno de 2007 não são do tipo que depende de uma EXTREMA CORREÇÃO desse horário e, portanto, não teríamos que nos preocupar muito com isso.
De qualquer forma, não custa, até pensando em possíveis contatos posteriores entre nós, se, tanto em 1975 (quando você tinha 12 anos) e quanto em 1984 (quando você completou 21), houve MARCANTES ALTERAÇÕES - onde sublinha-se o "marcantes" - em sua maneira de ser no que diz respeito a você mesma e aos demais.
Na primeira dessas datas (relativamente à qual, vista sua idade, pode haver pouca memória), essa mudança seria principalmente no sentido da libertação, mais ou menos abrupta, de vínculos aprisionantes, com uma sensação de desafogo que pode, ou não, ter sido acompanhada por perplexidade e desorientação.
Na segunda (relativamente à qual deve haver uma memória mais precisa), a mudança seria mais interna, visceral, como que uma espécie de parto, não abrupto, mas sim insidioso (e, muitas vezes, com correspondente sofrimento) de uma noção mais profunda de sua verdadeira forma de ser, com as conseqüentes mudanças, freqüentemente acompanhadas por lutas de poder, em sua maneira de se relacionar com os demais.
Se você confirma essas previsões e suas datas de ocorrência, o horário de nascimento que você me forneceu está bastante preciso. Se tais fenômenos ocorreram, mas somente um ano depois das datas assinaladas, você nasceu por volta de quatro minutos mais tarde; se um ano antes, cerca de quatro mais cedo. E assim por diante: dois anos antes, cerca de oito minutos mais cedo, dois anos depois, cerca de oito mais tarde etc..
Caso você não se lembre de nenhuma ocorrência desse tipo próxima aos anos referidos ou: (1) sua memória está bloqueada em relação a esses episódios; ou (2) há erro em seus dados de nascimento; ou (3) o astrólogo é ruim; ou (4) as hipóteses astrológicas que geraram as previsões em tela ficam sub judice.
Espero seu retorno sobre essa matéria, embora, como disse, ele não seja fundamental para meu trabalho atual.
Abraço.
LC.
P.S.: Em tempo, se você, em 1975 e/ou em 1984, tentou se opor às modificações sinalizadas acima, no primeiro caso, essas modificações poderiam ser substituídas por ocorrências como, por exemplo, acidentes, no segundo, por estados prolongados de ansiedade e comportamentos compulsivos.

Retorno Paloma

“Luís César,
........... o que posso dizer é que em 1975, antes do meu aniversário, tive minha primeira menstruação e, nesse mesmo ano, meu pai saiu de casa... 1984 não foi um ano fácil (depois de muiiiiiiiita água) meu pai saiu definitivamente de casa e ficamos numa situação muiiiiiiiiiiito crítica.”

Retorno LC

“Bem, então, aparentemente, o horário está bem preciso. Vou continuar trabalhando com ele. Abraço. LC.
P.S.: Não entendi muito bem o que você quis dizer com "(depois de muiiiiiiiita água)".

Retorno Paloma

“Com “depois de muiiiiiiiita água” quis-me referir a que as coisas não foram suaves entre meus pais, até a separação definitiva...muita coisa aconteceu entre 75 e 84. Foi uma mudança radical na minha vida .. privações em todos os sentidos. Pouco tínhamos para sobreviver, o mínimo do mínimo.... em 1984 morávamos de favor na casa de uma irmã do meu pai, então, quando ele foi embora, fomos convidados a sair... É! não foi fácil, não!...”

Retorno LC

“Outra pergunta: os trânsitos que mencionei, particularmente o de 75, indicam “maior independência”, embora tal independência pudesse estar associada a uma vivência de desamparo. A relação com seu pai – nem que fosse por amor a ele – restringia sua liberdade pessoal?”

Retorno Paloma

“Sim restringia, no sentido que para meu pai tudo era perigoso... não havia uma proibição expressa. Aliás, analisando as coisas agora, todos da família dele cultivavam a desconfiança em relação ao mundo e às pessoas. Engraçado, nunca tinha me dado conta disso! Se, por um lado, fiquei desnorteada pela saída dele, por outro ela significou mais liberdade para viver e aprender. Na verdade, nunca confiei nele.”

PRIMEIRO FRAGMENTO DE ANÁLISE

Como ando muito atarefado e você deve estar ansiosa por ter algum retorno, em vez de enviar-lhe de uma só vez a análise de todos os trânsitos, sempre que análise de um ou mais ficar pronta, envio-lhe imediatamente por imeil. E você pode retornar perguntas sobre cada um desses fragmentos que eu lhe enviar. Dos trânsitos que, no ano em curso, mais afetam você, os seguintes me parecem os que mais vale enfocar:

1) Plutão em trânsito fazendo trígono (120º) com seu Mercúrio natal;
2) Netuno em trânsito fazendo conjunção (0º) com seu Saturno natal;
3) Saturno em trânsito fazendo oposição (180º) com seu Saturno natal;
4) Saturno em trânsito fazendo conjunção com seu Mercúrio natal;
5) Saturno em trânsito fazendo trígono com sua Lua natal;
6) Júpiter em trânsito fazendo quadratura com seu Plutão natal;
7) Júpiter em trânsito fazendo trígono com seu Júpiter natal;

Comecemos, então, comentando o mais importante dos trânsitos listados, o de

PLUTÃO EM TRÍGONO COM SEU MERCÚRIO NATAL:
Intensidade e significado
O primeiro comentário aqui é o de que, ao analisar um trânsito, saber a intensidade de sua influência tem pelo menos tanta importância quanto saber o que ele significa. E o trânsito em questão é, com efeito, de longe o mais importante dentre todos os que irei enfocar.
Plutão em trânsito fazendo, a partir de um determinado signo, trígono com seu Mercúrio natal tem efeito similar ao do trânsito inverso, o de Mercúrio em trânsito fazendo, a partir de um determinado signo, trígono com seu Plutão natal. Ocorre apenas que, este segundo tipo de trânsito ocorre sempre a cada ano – todo ano, em algum momento, você está sob a influência dele – enquanto o primeiro – o que, no momento, atinge você – ocorre apenas uma vez a cada 248 anos, ou seja, jamais ocorreu anteriormente em sua vida e, não sendo você imortal, jamais irá novamente ocorrer. Posto isso, se é para aproveitar as oportunidades que ele oferece – e ele, de fato, as oferece, em uma intensidade incomparavelmente maior do que a do trânsito inverso, a que me acabei de referir – é para fazê-lo agora, ou nunca mais. E que oportunidade é essa?
A de aumentar extraordinariamente sua capacidade de compreensão intelectual, particularmente em relação à essência mais profunda das coisas. Só?
Só. Mas não é nada pouco. Um período como esse pode despertar em você o desejo de, por exemplo, dedicar-se ao estudo da Psicologia, particularmente da Psicanálise (a mais profunda das Psicologias), ou de algum outro campo de conhecimento que lida com as “entranhas” das coisas, como Geologia, Arqueologia, Física Nuclear etc. ou, também, o desejo de submeter-se a um tratamento psicoterápico e tudo isso com um sucesso e proveito jamais possíveis em outros períodos, de tal forma que, tais iniciativas, tomadas neste período, poderão causar verdadeiras reviravoltas em sua vida (por exemplo, você poderia decidir voltar a estudar, iniciando um curso universitário capaz de abrir novo espaço profissional ou mudar radicalmente sua compreensão de você mesma e da sua relação com o mundo a partir de um processo psicoterápico).
Resta um problema. O seguinte: estamos falando de um trígono e trígonos abrem oportunidades, mas não necessariamente fornecem o estímulo para que nos aproveitemos delas. Assim, a pessoa pode sentir uma “vaga vontade” de voltar a estudar, ou de submeter-se a uma análise, mas não tomar as providências necessárias para isso, deixando as oportunidades escorrerem-lhe por entre os dedos. Acrescente-se que, como logo veremos, há, neste ano, um outro trânsito, embora menos relevante, tendente a provocar em você momentos de medo, desorientação, desânimo, falta de confiança em si própria e depressão (de meados de fevereiro p.p. a meados de abril, você deve ter passado por um período assim, que, mais adiante, irá retornar e do qual logo falaremos), barrando-lhe a iniciativa necessária para aproveitar o trânsito que estamos agora abordando. É hora, resumindo, de começar a estudar algum novo assunto, voltar à universidade, submeter-se a uma psicoterapia, fazer cursos avulsos ou descobrir um hobby intelectual que lhe apraza. Note-se que as funções de ensinar e aprender estão, nesse período, particularmente acentuadas e que, se você escreve ou gosta de escrever, o período é particularmente favorável para isso. E quando estou falando em “particularmente favorável”, leia-se PARTICULARMENTE FAVORÁVEL.
Período de ação
O trânsito em questão atua, com intensidade variável, dentro do período que teve início no início de fevereiro do ano passado (2006), indo até o início de dezembro deste ano (2007).
Sua influência máxima ocorre – por razões sobre as quais não me estenderei – quando Plutão chega aos 26° 59’ do signo de Sagitário, ficando particularmente intensa dentro de uma órbita que vai de 25° 59’ aos 27° 59’ desse mesmo signo. Esses dados irão facilitar sua compreensão dos gráficos que se seguem, semelhantes a outros de que vamos continuar a fazer uso. Analisemos o primeiro deles:

25° SAG 59’ 26° SAG 45’ 25° SAG 59’
(04/02/2006) (02/04/2006) (25/05/2006)

O que ele significa? Significa que o trânsito em tela começou a atuar de maneira mais palpável – dependendo essa “palpabilidade”, é claro, do grau de atenção que cada um tem em relação a si mesmo – a partir de 04 de fevereiro de 2006, chegando quase (esse “quase”, no gráfico, está assinalado pelo itálico) ao ápice (chegou até 26° SAG 45’, mas não atingiu o “ponto ápice” de 26° SAG 59’, logo afastando-se dele)[1].
E o gráfico abaixo, o que significaria?


25° SAG 59’ 26° SAG 59’ 25° SAG 59’
(04/12/2006) (30/12/2006) (29/01/2007)

Que o trânsito voltou a atuar de maneira particularmente intensa a partir do início de dezembro do ano passado, chegando, dessa vez, a seu ápice (assinalado pelo vermelho) no penúltimo dia desse mês e reduzindo novamente sua intensidade a partir do antepenúltimo dia de janeiro deste ano.
Último gráfico sobre esse trânsito:
.
25°SAG59’ 26°SAG59’ 26°SAG18’
(05/06/2007) (14/07/2007) (09/09/2007)
.
26°SAG18’ 26°SAG59’ 27°SAG59'
(09/09/2007)(28/10/2007) (01/12/2007)
.
[Como se vê, o último termo da linha de cima se repete como o primeiro da linha de baixo. Isso se deve ao fato de que ambas as linhas deveriam estar em uma só, mas a formatação do blogue não permitiu isso.]

Agora você já é capaz de entender (espero que sim, pois teremos outros gráficos e não pretendo fazê-los serem precedidos por toda esta lengalenga): o gráfico acima significa que o trânsito de Plutão em trígono com seu Mercúrio estará de novo particularmente atuante durante um longo período, que vai do início de junho ao início de dezembro deste ano, com ápices de influência em torno de 14 de junho e 28 de outubro, e, certamente, extremamente ativo entre essas duas datas. Essa terceira passagem será a última. Outra igual, como disse, só daqui a 250 anos, portanto, se você não aproveitou ainda, sugiro que comece a preparar-se para fazê-lo.
Seria interessante algum retorno seu sobre ter ou não sentido o tipo de influência que acabei de descrever. Estou, além disso, a sua disposição para responder, via imeil, perguntas sobre este material. Espero logo poder enviar-lhe informações adicionais.

Resposta de Paloma

"Luís César,

Em 2005, fiz um curso de atualização na minha área profissional e, no ano passado, fiz uma especialização, cujo trabalho final defendi agora em março. Nunca me sai também [grifo meu] em uma apresentação, segura, tudo muito claro. Foi uma experiência tão boa que estou me preparando para, no segundo semestre, fazer a prova de Mestrado. De qualquer forma, não ficarei parada.
Tenho lido muito sobre Psicologia e Psicanálise ultimamente. Esse movimento se iniciou em 2005, quando também iniciei a terapia, que interrompi em 2006 porque a psicoterapeuta mudou para outra cidade.Achava que não ia mais voltar, mas encontrei uma nova terapeuta, e, desde fevereiro, faço uma sessão por semana. Essa nova etapa está sendo muito produtiva. Realmente sinto um crescimento muito grande, estou colocando um ponto final em vários assuntos, fechando Gestalten.
Uma pergunta: é possível você dizer o que o meu Mapa previa para o ano de 2005? (esse foi um ano que nunca vou esquecer). Como vê, você está acertando.
Obrigada!!!"

Retorno de LC

Seu último imeil estimulou-me a fazer um fragmento de Logastrologia (estudo e prática resultantes da interação da Loganálise, variante da Psicanálise a que me dedico, com a Astrologia). E por que isso?
Porque, no referido imeil, você, em vez de escrever “Nunca me sai tão bem em uma apresentação”, escreveu “Nunca me sai também em uma apresentação”. Ora, qualquer psicanalista – não precisaria ser um loganalista – seria inclinado a pesquisar a hipótese de que você tem alguma inibição em sobressair-se em sua expressão verbal. Esse psicanalista, naturalmente, iria dar continuidade a sua pesquisa a partir do material que você lhe fornecesse em suas sessões terapêuticas. Um “logastrólogo’ tem o recurso adicional de testar essa hipótese examinando seu mapa. E, fazendo isso, o que ele encontra?
Encontra um Mercúrio em Leão – que reforça o impulso para sobressair já implicado pela presença nesse mesmo signo de seu Sol e de sua Vênus (mais ainda por estarem todos esses corpos celestes na Casa X de seu mapa) – em trígono (um ângulo facilitador) com Júpiter (um planeta tipicamente expansor) em Áries (um signo de iniciativas) e regendo as casas VIII e XII, ligadas ao oculto e ao profundo. Eu diria que você, potencialmente, pode ser brilhante compreendendo o âmago das coisas e comunicando verbalmente essa compreensão.
Mas... Mas esse mesmo Mercúrio “sofre”, em seu mapa natal, uma oposição (ângulo inibidor) de Saturno (planeta igualmente inibidor), que, naturalmente, se opõe ao desenvolvimento sem peias das características acima. Mas... Mas, ao mesmo tempo, essa oposição desafia a pessoa a procurar tal desenvolvimento, o que, por vezes, um trígono, por si só, não é capaz de fazer. Ora, no período que lhe assinalei nos gráficos, o Plutão, em Sagitário, está, por trânsito, reforçando o trígono nativo de Júpiter com Mercúrio, ajudando esse último a enfrentar as inibições provocadas pela apontada oposição de Saturno.
Resumindo, você apresenta, como indica sua natividade, um conflito estrutural entre, por um lado, o desejo de brilhar intelectual e verbalmente (= pólo expansivo) e, por outro, um excesso de autocrítica em relação a suas tentativas de fazê-lo (= pólo inibidor), conflito que, como indica o principal trânsito ora em curso, está, durante o período que vai do começo de 2006 ao fim de 2007, recebendo um reforço conjuntural de seu pólo expansivo, embora, como se vê pelo “também” no lugar do “tão bem”, o pólo inibidor continua operante, quanto mais não seja ao nível do lapso.
Dois alertas e três sugestões:

(1) no período que vai de 1/08/07 a 16/08/07 o pólo inibidor desse conflito estrutural vai sofrer um curto reforço, o que contra-indicaria, por exemplo, a marcação de uma defesa de tese para esse período;
(2) o trânsito que criou uma conjuntura especialmente favorável a seu desenvolvimento verbal e intelectual termina em dezembro deste ano. Isso não indica, contudo, que as vantagens dele auferidas vão desaparecer. Lembre-se de que, se uma onda nos eleva a um promontório a que não éramos capazes de ascender meramente por nossas forças, podemos perfeitamente, depois que ela vai embora, continuar sobre o promontório;
(3) o conflito estrutural a que me referi, para ser manejado de forma a lhe causar o mínimo possível de prejuízos, deve ser conscientizado, não da maneira geral que, tirante a análise do lapso, foi empregada aqui, mas atendendo para a maneira microscópica em que esse conflito opera no seu cotidiano. Isso, naturalmente, uma boa psicoterapita lhe permite fazer.

Retorno de Paloma

“Seus comentários são muito pertinentes. Realmente, eu tinha dificuldade de me expressar verbalmente, quando diante de um público: se desconhecido, ficava travada, tremendo, e depois remoendo que devia ter feito assim ou assado; se conhecido, ficava com medo da crítica, de ser mal interpretada.
(Obs.: Quando iniciei a terapia, em 2005, escrevia muito sobre o que sentia e levava para a terapeuta ler. Só depois entendi que essa era uma maneira de me proteger, de não me expor, de filtrar as minhas emoções e de ter o controle da situação. Quando a terapeuta me mandava falar sem ler, seu me sentia perdida. Hoje, ao contrário, não escrevo nada. Vou para a terapia e falo,falo... Consigo organizar meus pensamentos e expressá-los de forma clara, sem críticas... Quando saio de lá, não fico mais analisando o que disse ou deixei de dizer. Às vezes, acho tão esquisita a ausência das velhas ruminações...)
O importante, de qualquer forma, é que estou mudando para melhor e sinto que essa mudança é para valer.
Obrigada!!
P.S.: O que significa, no trecho a seguir:
'recebendo um reforço conjuntural de seu pólo expansivo, embora, como se vê pelo "também" no lugar do "tão bem", o pólo inibidor continua operante, quanto mais não seja ao nível do lapso.'
a expressão ‘quanto mais não seja, no nível de lapso’? Não estou certa sobre se entendi corretamente."

Retorno de LC

"Significa que o pólo inibidor levou-a a escrever "também", em vez de "tão bem", impedindo-a, assim, de EXPRESSAR CLARAMENTE SEU SUCESSO."

VOLTANDO À ANÁLISE DOS TRÂNSITOS

Vimos que o trânsito, recém-abordado, de Plutão em trígono com seu Mercúrio é o mais importante desse período de aproximadamente um ano que está sob avaliação. A reviravolta positiva que, se bem aproveitado, ele pode representar em sua vida – particularmente na intelectual e na profissional – sofrerá matizamentos provenientes da ação de outros trânsitos, não tão significativos, mas ainda assim relevantes. Consideremos, portanto, mais um desses outros trânsitos, agora a passagem de Netuno pelo mesmo grau ocupado, no seu mapa nativo, por seu Saturno, o que, tecnicamente, se denomina de

A CONJUNÇÃO NETUNO COM SEU SATURNO NATAL:

Comecemos considerando os períodos em que esse trânsito vai estar mais ativo. Você já conhece nossos gráficos e, portanto, já deve ser capaz de interpretá-los.

(11/02/2007) (11/03/2007) (16/04/2007)
Primeiro período


(04/07/2007) (14/08/2007) (24/09/2007)
Segundo período


(07/12/2007) (12/01/2008) (08/02/2008)
Terceiro período

Como vê, o trânsito em pauta atua com maior intensidade em três períodos. O primeiro deles, cujo gráfico reproduzo abaixo –

(11/02/2007) (11/03/2007) (16/04/2007)
Primeiro período

– ocorreu entre 11 de fevereiro p.p. e 16 de abril p.p., com clímax em 11 de março. Isso nos deixa em posição favorável para prever com maior exatidão qual será seu efeito nas próximas duas passagens. E por quê? Porque, embora a experiência e a literatura nos ensinem o caráter geral dos efeitos desse trânsito, podemos, atentando sobre o efeito que ele teve sobre você nessa primeira passagem, ter também alguma idéia de como ele opera especificamente (intensidade, modo de expressão, áreas de sua vida particularmente atingidas etc.) no seu caso, precisando melhor o que pode ser esperado nas duas passagens ainda por vir. Para introduzir você à natureza desse caráter geral, vou usar um pequeno episódio que relato em meu livro, A Nova Conversa.

A estória do banquinho

Um general à paisana passeia, numa bela tarde de domingo, pela orla do Rio. Passando por diante de não me lembra qual forte, resolve sentar-se em um banquinho, externo às muralhas daquele. E assim o faz. Decorridos poucos instantes, uma sentinela deixa sua guarita e se aproxima, advertindo-o:

– O senhor não pode se sentar nesse banquinho!

Surpreso, o general se identifica e pergunta:

– Por quê?
– Não sei, general, mas o senhor não pode sentar no banquinho! – responde o soldado, prestando continência.
– Quem é o oficial-de-dia? – retruca o general. Quero falar com ele!

Chegado o oficial, repete-se a indagação.

– Gostaria de saber por que não posso me sentar nesse banquinho.

A resposta não se altera:

– Não sei – continência – general, mas nem o senhor nem ninguém podem sentar nesse banquinho!
– Quem é o comandante do forte? – desespera o general.

O comandante do forte era um ex-colega. Vai até ele.

– Fulano, há quanto tempo! O que tem havido de você? Blá, blá, blá, blá, blá, blá...
– É verdade! E de você, cara!? Blá, blá, blá, blá, blá, blá...

– Fulano, me explica uma coisa!
– Diga.
– Por que não se pode sentar naquele banquinho em frente ao forte, logo perto da guarita?
– E não se pode?
– Não, não se pode. Achei estranho. Fora do forte. Domingo. Sem qualquer razão visível para esquemas especiais de segurança...
– Ordenança! – brada o comandante – Traga-me o responsável pela ordem de que não se pode sentar no banquinho fora do forte, próximo à guarita!
– Pois não, general!

Cinco minutos. Mais um cafezinho. Blá, blá, blá, blá... Chega o responsável, um sargento. Troca de continências.

– Sargento – brada o comandante – por que não se pode sentar naquele banquinho?!

A resposta merece participar de antologia:

– Desculpe, comandante, isso foi há três meses, quando eu mandei pintar o banquinho!...’’
[2]

A lição contida nesse pequeno relato é bem clara: há interditos que, embora funcionais em determinadas circunstâncias, podem ter sua aplicação a tal ponto automatizada que continuam a ser aplicados mesmo quando sua funcionalidade já se extinguiu.
Ora, o principal papel de Saturno em um mapa astrológico é representar os interditos, funcionais e não funcionais. Que tipo de conseqüência terá sobre um psiquismo a passagem de Netuno, o planeta da indefinição, da neblina e do inefável, sobre um tal planeta?
Terá a conseqüência de produzir dúvidas. O sujeito começará a sentir-se incerto sobre a adequação das normas de conduta a que, até então, cegamente obedecia.
O lado negativo do trânsito é a pessoa ser tomada por uma sensação geral de desorientação, que solapa sua autoconfiança, deixando-a ansiosa e sem encontrar razões palpáveis e plausíveis para tal ansiedade.
O lado positivo dele é que tal estado de incerteza impulsiona o sujeito a refletir sobre a real utilidade das normas de conduta a que automaticamente obedecia, sendo muitas vezes capaz de passar a aplicá-las apenas sob as circunstâncias em que se mostram, de fato, funcionais.
Como, de meados de fevereiro a meados de abril, você já passou por esse trânsito, deve ter já uma idéia sobre (a) a intensidade com que ele atinge a sua autoconfiança, a desorienta, a deixa ansiosa e (b) em que áreas isso preferencialmente ocorre (há indícios, mas não indiscutíveis, de que isso possa particularmente ocorrer em sua área familiar).
Note-se que, em virtude de esse trânsito provocar uma espécie de “torvelinho existencial”, cheio de dúvidas e hesitações, é aconselhável que, durante sua ocorrência, a pessoa não tome decisões de monta que poderiam, sem prejuízo, ser postergadas. Vale também conhecer os períodos em que o trânsito está mais ativo, não só para evitar tais decisões durante esses períodos, como para saber que a experiência que está sendo vivida é apenas conjuntural e, passado o trânsito, ela irá terminar. A propósito, findo o terceiro dos períodos assinalados, Netuno só voltará à posição em tela daqui a 164 anos. Está bem assim?
Em tempo, o segundo desses períodos coincide em parte com o trânsito de Plutão sobre seu Mercúrio, anteriormente discutido. Se você for marcar defesa de tese, ou algo semelhante, um primeiro conselho seria fazê-lo entre 5 de junho e 4 de julho ou entre 24 de setembro e 1 de dezembro, quando o primeiro trânsito está operante e o segundo, não. Esse conselho será refinado quando analisarmos os demais trânsitos selecionados.
Estou a sua disposição para maiores esclarecimentos sobre esses meus comentários.

Retorno de Paloma

"Bom dia!! Parece que aproveitei o lado positivo do trânsito em apreço... Ontem, na terapia, falei exatamente da utilidade das normas de conduta... Quanto à ansiedade e desorientação anterior, foram aliviadas com a tomada de consciência e expressão daquilo que me incomodava (no âmbito familiar) ... o fato de enfrentar os fantasmas, de torná-los concretos, permitiu-me voltar para o aqui a agora e trabalhar para modificá-los numa perspectiva realista, sem ilusões."

Passemos, agora, à análise da

OPOSIÇÃO DE SATURNO EM TRÂNSITO AO SEU SATURNO NATAL:


Este, comparado com os anteriores, é um trânsito rápido. Sua primeira passada foi no ano passado –

(15/09/2006) (23/09/2006) (03/12/2006)

Primeira passagem

– outra, no começo deste ano:

(11/02/2007) (23/02/2007) (09/03/2007)

Segunda passagem

Muitas vezes, pelo menos em sua primeira passada, um trânsito rápido como esse não é sentido com muita nitidez exato momento em que ocorre, sendo mais bem percebido retrospectivamente. Mas não deixa de ser bastante significativo. Implica o mundo pondo os olhos sobre você, para avaliá-la, “louvando o que bem merece e deixando o ruim criticado”.
Saturno, como já vimos, representa o limite, a norma, a lei. Saturno em trânsito fazendo oposição ao seu Saturno natal significa as normas do mundo avaliando os resultados a que levou a aplicação por você das normas de comportamento pelas quais você optou.
Você se recorda de, nos períodos acima assinalados, ter sido submetida a algum tipo mais marcante de avaliação, seja oficialmente, seja em sua vida cotidiana? Trata-se de avaliações que, via de regra, trazem consigo picos de sucesso e/ou de fracasso, sendo que, por vezes, de sucesso em uma área – profissional, por exemplo – e de fracasso em outra – familiar, por exemplo. E, onde eu escrevi “por exemplo”, leia-se “por exemplo”.
Pois bem, há um outro momento, neste ano, em que se espera que tal processo de avaliação ocorra novamente, qual seja:



(31/05/2007) (13/06/2007) (24/06/2007)

Terceira passagem

Como, nessa sua terceira passagem, o trânsito em tela coincide com uma intensificação do trânsito de Plutão fazendo trígono com Mercúrio (o primeiro que analisamos), você, caso fique sob holofotes, estará particularmente aparelhada – mormente em nível intelectual – para enfrentar as avaliações a que for submetida. E, segundo afirmam alguns astrólogos, você estará lidando, durante os próximos quatorze anos, com os frutos que plantou nos últimos sete anos e que, a partir das avaliações por que passará agora, irá começar a colher.
Se você sente que, nas duas primeiras épocas assinaladas, passou realmente por um processo intensificado de avaliação pelo mundo e tem alguma pergunta específica a fazer sobre sua experiência com isso, estou a sua disposição para tentar responder.

Retorno de Paloma

"Surpreendente...Em setembro/2006, exatamente na data assinalada, eu imprimi uma nova e positiva imagem junto a uma pessoa de minha família. Foi muito bom obter esse reconhecimento, principalmente por parte de uma pessoa mais jovem que estava na mesma busca que eu: conhecer-se. Acho que nunca tinha ouvido algo tão positivo sobre mim, e foi quando percebi que estava mudando minha postura diante da vida.
Já em fevereiro/2007, esse respeito e reconhecimento como indivíduo veio de minha mãe, com a qual estava tendo problemas para me relacionar. Acho que finalmente ela passou a me ver com um ser humano e não como mero apêndice dela. Incrível como hoje me sinto livre, acho que finalmente cortei o cordão umbilical... Esquisito dizer isso, quando se tem mais de 40 anos!
No trabalho, também tenho obtido reconhecimento. Outro ponto, é que na sessão passada discuti na terapia exatamente sobre as normas ( no sentido de: eu sou normal?), sobre meu comportamento frente à sociedade. Isso é algo que venho observando nos últimos tempos, mas só agora intensifiquei a análise. Percebi que ao mesmo tempo em que contestava as normas, criei várias para minha vida, sendo muitas vezes paralisada por elas.
Obrigada."

Retorno de LC

"Paloma,
um comentário de natureza psicanalítica: "normal" é uma palavra perigosa porque facilmente associada com "normalidade estatística", o que, de forma alguma, corresponde à "saúde". É, por exemplo, normal (estatisticamente), em nossa sociedade, que as pessoas tenham cárie, mas, definitivamente, não é algo saudável. E, se optamos por falar de "saúde psicológica" em vez de de "normalidade psicológica", proponho o seguinte: que se considere que um psiquismo é tanto mais saudável quanto mais seja capaz, para as condições em que está inserido, otimizar prazer e funcionalidade. É óbvio que, como essas condições variam extremamente, é tão estúpido querer detalhar qual é o comportamento idealmente saudável quanto especificar os movimentos que tipificam o jogo de xadrez ideal.
Abraços. Luís César."

O trânsito que passarei, em seguida, a enfocar, é também muito rápido e só tem uma passada neste ano. Trata-se da

CONJUNÇÃO DE SATURNO COM SEU MERCÚRIO NATAL:
Veja o início, clímax e fim desse trânsito:

(01/08/2007) (09/08/2007) (16/08/2007)

Única passagem

Saturno, como vimos, critica e interdita o que criticou, inibindo a operação das funções sobre que se volta essa crítica.
Ora, como Mercúrio significa pensamento e comunicação, particularmente a comunicação verbal, Saturno em conjunção com Mercúrio significa que você estará excessivamente crítica em relação a suas capacidades intelectuais e verbais, inibindo a operação dessas capacidades. Se estiver dedicada a, por exemplo, desenvolver um projeto de tese, tenderá a ficar cheia de dúvidas, a pensar que não acertou o tema escolhido, a achar que, na verdade, não é capaz de enfrentar um mestrado, que deveria estar em casa cozinhando e lavando roupa etc. etc..
Não acredite nessas opiniões pessimistas sobre sua própria capacidade mental: elas irão cessar quando cessar o trânsito. Tampouco – se, naturalmente, as condições externas o permitirem – marque reuniões em que terá que defender seus pontos de vista, nem se exija intelectualmente demais: relaxe e espere tudo passar.
Talvez, se conseguir vencer seu provável pessimismo agora conjunturalmente exacerbado, valha a pena aproveitar o período ocupado por este trânsito para fazer planejamentos, pois você estará particularmente competente para analisar um projeto ou uma idéia sob todos os pontos de vista.
Viajar um pouco? Não aconselho: provavelmente ir-se-ia aborrecer com dificuldades de traslado, área também regida por Mercúrio. Mesmo em seus deslocamentos regulares, é possível que você tenha que enfrentar automóveis que enguiçam, ônibus que atrasam, elevadores parados etc..
Que bom este trânsito ser rápido, não? Mais um consolo: só volta daqui a trinta anos.
Deixei para o fim os trânsitos mais rápidos e, portanto, menos significativos. Vou começar com o –

TRÍGONO DE SATURNO EM TRÂNSITO COM SUA LUA NATAL:

Eu, na verdade, havia desistido de mencionar esse trânsito, por sua rapidez e por já haver completado suas duas primeiras passagens, mas resolvi novamente fazê-lo, por ter ele uma especial relação com o materno e por haver você comentado em seu último imeil que, em setembro último, ocorreu significativa mudança em sua relação com sua mãe. Essas duas primeiras passagens foram as seguintes:

(09/10/2006) (20/10/2006) (04/11/2006)

Primeira passagem

(08/01/2007) (23/01/2007) (05/02/2007)

Segunda passagem

Esse trânsito expressa uma maneira mais harmônica (= trígono) e madura (= Saturno) de encarnar o maternal (= Lua), de que nossas mães são a expressão mais explícita, mas que abrange tudo que deve acolher e alimentar, como, por exemplo, nossa família, nossa residência e os impulsos e emoções relativos àquelas duas funções nos outros e em nós mesmos. Assim, ele oferece períodos particularmente favoráveis para tomarmos iniciativas, fazermos reparações e “acertarmos contas” em todas essas áreas, que, em seu mapa, estão potencialmente bem estruturadas, mas provavelmente – se, como parece, seu horário de nascimento está de fato correto – não têm esse potencial suficientemente explorado.
Seu mapa sugere que seu próprio potencial materno, por exemplo, é bastante bom – embora se expresse, talvez, de forma mais intelectualizada (como uma professora acolhedora e compreensiva, por exemplo) – mas não sei o quanto você, de fato, o atualizou, por exemplo, tendo filhos. Também seu potencial de boa relação com sua mãe, com a casa em que você mora e com sua família pode ter ficado pouco explorado e esse trânsito tenderia a levá-la a refletir um pouco mais sobre isso. Até a área de poupança de ativos – uma espécie de “mãe financeira” – pode ser atingida por essa mudança.
A próxima (e última) passagem desse trânsito tem seu período representado no gráfico a seguir:


(28/06/2007) (08/07/2007) (17/07/2007)

Terceira passagem

Passemos, agora, à

QUADRATURA DE JÚPITER EM TRÂNSITO COM SEU PLUTÃO NATAL:

(08/01/2007) (13/01/2006) (19/01/2006)
Primeira passagem

(05/06/2007) (14/07/2007) (08/08/2007) (30/08/2007) (11/09/2007)
Segunda (e última[3]) passagem

Plutão é poder, Júpiter expande. Como – sempre na expectativa de estarmos trabalhando com um horário correto de nascimento[4] – seu ascendente é Escorpião, signo regido pelo primeiro daqueles astros, essa influência deverá ser, sobre você, maior do que sobre outras pessoas com ascendentes em outros signos.
O efeito básico dele seria uma sensação aumentada de poder pessoal, o que, evidentemente, é uma sensação agradável. O único cuidado aqui é – visto que o aspecto em tela é uma quadratura, o que pode levar a uma certa irracionalidade no manejo do trânsito – evitar que essa sensação suba a cabeça a ponto de você achar que pode deixar de tomar certas precauções – para mero exemplo, estacionar “rapidinho” o carro em um local proibido, ou deixar de verificar a correção de itens bibliográficos citados na tese – que nada de mal irá acontecer. Provavelmente, vai.
Vamos terminar nossa análise abordando um trânsito bastante afortunado e jovial, mas cuja primeira passagem, a mais longa, termina hoje e só terá mais uma, bastante curta, no final do ano, qual seja, o

TRÍGONO DE JÚPITER EM TRÂNSITO COM SEU JÚPITER NATAL:

Eis a passagem que termina hoje, 6 de maio[5]:


(06/03/2007) (21/03/2007) (07/04/2007) (21/04/2007) (06/05/2007)
Primeira passagem

Não sei o quanto você conseguiu curtir essa primeira passagem do trânsito – que traz consigo uma sensação de paz e relaxamento – pois, como vimos anteriormente, até pelo menos meados de abril você esteve sob influência de outro trânsito – a conjunção de Netuno em trânsito com seu Saturno natal – que produz inquietação e dúvidas. De qualquer forma, ela deve ter atenuado o efeito perturbador dessa conjunção. A segunda e última passagem será de apenas dez dias e está representada no gráfico a seguir:

(25/10/2007) (30/10/2007) (05/11/2007)
Segunda (e última) passagem

Embora curta, não vai ter nada que a atrapalhe, muito pelo contrário: ela coincide com o positivo trânsito de Plutão em trígono com seu Mercúrio natal e seria um momento ótimo para defender sua tese, ou curtir o fato de já havê-la vitoriosamente defendido, numa merecida viagem de lazer. E viagens prazerosas é com Júpiter mesmo!
Terminei. Boa sorte. Espero ter sido útil.
Uma curiosidade. Não tive nenhuma idéia clara quanto a sua atividade profissional, mas você parece ser uma planejadora ou projetista cuidadosa e original. Você é arquiteta, administradora de empresas ou desempenha alguma função que dependa dessas qualidades?
E um comentário: não falei nada sobre vida amorosa ou sexual porque não vi nenhum trânsito voltado particularmente sobre isso. Tudo que pude perceber estava relacionado essencialmente com sua visão do mundo e de si mesma e sua atividade acadêmica e profissional. Quem sabe outro astrólogo – talvez empregando outras técnicas (revoluções, progressões et caterva) – veria algo naquela área? God knows.
De qualquer forma, estou a sua disposição para maiores informações e perguntas.
Abraço.
Rio, 06 de maio de 2007.
Luís César.

Resposta Paloma

"Bom, realmente tenho uma capacidade de planejamento muito boa, embora às vezes não me dê conta disso, já que é algo inato (ao que parece)... Quanto a minha profissão sou formada em Direito e trabalho como assistente de Juiz de Tribunal. Como assistente minha função é essencialmente jurídica, analisar os processos em grau de recurso – examinando o pedido, a defesa e as provas – para então fornecer a solução, a partir da distribuição do ônus da prova. Isto é, redijo uma minuta de voto, com a qual meu chefe concordará ou mandará faze outra... Assim, creio que minha facilidade em ser objetiva me ajude muito no trabalho.Também fiz Bacharelado em Filosofia, mas deixei pendente a monografia. Estou pensando em voltar e concluir. Quanto ao mais, você acertou. No momento estou totalmente voltada a reavaliar a minha visão do mundo, de mim e da minha atividade acadêmica e profissional. Algo que sempre adiei, e agora se mostrou premente (como confirmou o seu estudo). Acho que esse ano finalmente vencerei os fantasmas do passado, presente e futuro, e poderia usufruir melhor a vida. Seria mais amável e tolerante comigo. Vou ler mais uma vez os últimos trânsitos e enviarei meus comentários.
Obrigada, no próximo ano espero poder fazer de novo. Foi muito esclarecedor. Farei o depósito ainda hoje."

Retorno LC

"Vou-lhe confessar algo que me faz sentir meio ridículo. Eu omiti algo de minhas considerações sobre qual seria sua profissão, porque fiquei constrangido em expor as razões das dúvidas que tive em relação a elas. Esse seu imeil deu-me ganas de expô-las agora.
Você tem Júpiter - o planeta que rege a advocacia - na casa do trabalho, em bom aspecto - trígono - com Mercúrio, regente "natural" (não vou explicar o que é isso agora) dessa casa. Assim, num primeiro momento, achei que você fosse advogada. Mas algo absolutamente não astrológico fez-me ficar em dúvida sobre esse meu palpite: em alguns momentos, achei seu português muito relaxado para alguém que militasse na área do Direito. Coisas bobas, mas significativas, como haver, por exemplo, uma vírgula entre um sujeito e o seu verbo. Cheguei a pensar: "Não, mas isso é porque ela, simplesmente, está escrevendo de uma tacada só, sem rever o que escreve".
Bem, seu imeil veio demonstrar que minhas considerações fundadas na Astrológia tinham mais fundamento do que as fundadas na gramática.

Grande abraço.
Luís César."



[1] Para a Astrologia, importantes são as posições dos astros em relação a um observador situado na Terra e, para ele, os astros, em determinados momentos, parecem estar retornando sobre sua órbita zodiacal.
[2] Ebraico, L.C. de M. A Nova Conversa. Rio: Ediouro, 2004, p. 237-8. O episódio me foi relatado como havendo de fato ocorrido.
[3] Outra igual, só daqui a aproximadamente doze anos.
[4] Se, nesse horário, houver um erro de cinco minutos para mais, seu ascendente seria Libra e a influência desse trânsito seria menor.
[5] O texto foi escrito nessa data.